O isolamento e o distanciamento sociais causados pela pandemia da Covid-19 alterou a forma como as pessoas se relacionam entre si e nos espaços de convivência, públicos e privados. A necessidade de evitar aglomerações obrigou a paralisação de ambientes de trabalho como indústrias, comércio e espaços corporativos. Graças aos avanços tecnológicos da informática e de conexões de banda larga muitas das atividades não foram paralisadas e uma massa de trabalhadores se viu diante de uma nova realidade, o home office. Trabalhar em casa trouxe novos desafios, entre eles, o de encontrar concentração necessária para o trabalho em meio a novos ruídos.
Mas o que fazer se essa realidade permanecer por mais tempo ou se tornar até mesmo definitiva? Um dos aspectos mais interessantes durante esse período, e, quase um contrassenso geral, são dos relatos de pessoas dizendo que estão trabalhando mais do que antes.
Talvez não seja possível aferir com exatidão que isso signifique desempenho e produtividade mas, uma coisa é certa, o modelo de trabalho remoto e em casa reduz em muito os custos dos empregadores e diminui de forma significativa o peso sobre o trânsito e o transporte público nas grandes cidades. Ao mesmo tempo, coloca os profissionais com o desafio de preparar um ambiente de trabalho em casa com ergonomia e conforto acústico. Questões que precisarão ser resolvidas nesse “novo normal”.
“O home office já vinha como tendência e a quarentena só fez acelerá-la. Quem está trabalhando de casa já percebeu que um ambiente com boa acústica é fundamental. Isto implica em controlar os sons internos e externos que possam representar fonte de desconforto ou de distração”, pontua Marcelo Godoy, diretor da consultoria Modal Acústica.
À medida que muitas empresas já começam a adotar o home office definitivo, até mesmo pelas incertezas de retorno por falta de solução terapêutica para a doença e pela desorientação dos governos na definição de estratégias seguras de reabertura da economia, o mais importante, segundo Andrea Destefani, sócia da Consultoria Ca2, “são os profissionais, dentro do possível, procurarem escolher um cômodo distante do ruído da rua para instalar o home office, com a possibilidade de ser fechado por uma porta e com paredes de composição que promova o adequado isolamento acústico”.
A consultora explica que, dependendo da situação, o morador pode investir em janelas acústicas, revestimentos acústicos ou mobiliários que auxiliem na absorção sonora e portas com melhor vedação perimetral. “Pouco se pode fazer contra o ruído de impacto nas edificações construídas.
Esse tipo de ruído é produzido por impactos nos elementos da edificação, como caminhar, queda de objetos, arrastar de cadeiras, que geram incômodos entre vizinhos.
“Para a estrutura da edificação, o mercado vem empregando sistemas que combinam pisos flutuantes e forros suspensos, como recursos para mitigar este tipo de problema”, explica Destefani.
As soluções acústicas no home office devem levar em conta a convivência e o uso simultâneo dos espaços tendo como objetivo atingir níveis aceitáveis de ruído no interior das unidades. Para Godoy, “os principais elementos no isolamento de um cômodo são os conjuntos laje e forro, paredes, esquadrias e porta interna. No caso de ruídos do pavimento superior, a instalação de um forro isolante acústico pode ajudar bastante. Para ruídos vindos de andares abaixo, a situação é mais complicada, uma melhoria eficiente exige um piso elevado ou intervenções no ambiente emissor”, esclarece.
Para a proteção dos ruídos externos, o consultor Olavo Fonseca Filho, diretor da Sonar Engenharia, orienta que o ideal é fazer uma análise da real necessidade de fazer a troca das esquadrias existentes ou apenas uma boa revisão, verificando a vedação perimetral, desalinhamentos, folgas, etc. Caso não tenha outra saída, é importante instalar esquadrias acústicas novas, com boa vedação, para que “proteja” o profissional dos ruídos aleatórios vindos de fora. Outra solução acústica que melhora o conforto é a instalação de uma guilhotina de sobrepor na fresta inferior da porta e borrachas de compressão no perímetro. Esse isolamento do ambiente evita a substituição da porta por uma acústica.
Hoje a gama de produtos disponíveis no mercado, segundo Fonseca Filho, é bastante grande e a decisão deve seguir alguns fatores. Entre eles, a necessidade acústica, com o uso de elementos que gerem pouca absorção, resultando em uma “sala viva” ou, ao contrário, ao utilizar muita absorção sonora cria-se uma “sala surda”; praticidade, conforme a situação há produtos de fácil instalação nas paredes e forros; e custo, caberá ao cliente definir sua realidade financeira para que o resultado fique satisfatório.
Para as soluções acústicas combinarem com a decoração desejada e resultarem em um desempenho acústico almejado, Destefani indica produtos para revestimento de paredes e forros que atendam aos requisitos de absorção sonora e estética. São materiais elaborados em madeira, tecido, metal perfurado, gesso perfurado, entre outros. “Tais revestimentos, em conjunto com a mobília e decoração (sofás, tapetes e poltronas) auxiliam na redução da reverberação no ambiente”, ressalta.
No caso da não disponibilidade de cômodo específico para o estabelecimento da estação de trabalho em casa existem opções de mobiliário com divisórias baixas estofadas, revestidas em tecido, que podem ser utilizadas como barreira para atenuar o ruído. Além disso, segundo os consultores, o mercado oferece hoje “casulos acústicos” que podem ser instalados prontos e proporcionar conforto ao usuário em qualquer lugar.
Durante as atividades de trabalho, como participar de reuniões remotas, conferências, entrevistas, palestras e outras situações de escuta e fala, Godoy indica a utilização de fones de ouvido confortáveis tipo over ear ou on ear, principalmente os modelos com cancelamento de ruído. Essas tecnologias, segundo ele, podem ser a salvação em ambientes em que não se pode controlar o ruído. Para melhor comunicação em videoconferências, o especialista sugere softwares e plugins com cancelamento de ruído.
Outro dado de suma importância são as normas técnicas aplicadas na adaptação desses ambientes ou na construção de um home office. São elas: NBR 10151:2019: Acústica – Medição e avaliação de níveis de pressão sonora em áreas habitadas – Aplicação de uso geral; NBR 10152:2017: Acústica – Níveis de Pressão Sonora em ambientes internos à edificações; NBR15575:2013: Edificações Habitacionais – Desempenho – Partes 1 a 6.
Imagem Destaque: Baux.se
Fonte: Proacustica