Confira a entrevista com Marcelo Nudel, diretor geral da Ca2 Consultores Ambientais Associados, sobre o momento atual e as tendências no pós-pandemia.
Fizemos uma série de entrevistas com alguns dos especialistas do mercado da sustentabilidade, que deram suas opiniões e impressões sobre o momento atual, as perspectivas e tendências de transformação que o futuro nos reserva.
Apresentamos, na íntegra, a entrevista com Marcelo Nudel*, da Ca2 Consultores Ambientais Associados:
Portal Going Green Brasil. Qual o principal impacto que a quarentena/pandemia trouxe para a sua empresa? Em termos de funcionamento e, principalmente, como impactou os negócios…
Marcelo Nudel. O primeiro impacto que veio, obviamente, e que todo o mercado precisou se adequar foi o trabalho remoto. A Ca2 não tem essa prática como costume. Não porque não acreditamos no modelo home office, mas porque gostamos do ambiente do escritório, de estarmos juntos.
Montamos no início de 2019 um escritório bem legal, maior, com plantas, muita luz natural, com a nossa cara. O ambiente é ótimo para o trabalho e nos sentimos muito bem lá. E gostamos também da interação, da troca de informações rápida e presencial. Então sentimos muita falta disso e tivemos que mudar rapidamente quando a situação começou a ficar séria.
Mas nos adaptamos rapidamente. Nomeamos uma das sócias para implementar o sistema home office e o processo foi muito bem feito e de forma muito rápida. Nossa produtividade continua alta e alguns de nossos profissionais relatam aumento de eficiência. Mantemos nossas reuniões semanais de planejamento e, agora, estamos fazendo uma reunião diária rápida com todos para o fechamento do dia e tem sido excelente. Nesse sentido não percebo impactos significativos no negócio. O impacto vem com a crise e, assim como todo o setor, vamos senti-lo.
GGB. Quais foram as alternativas que vocês buscaram (se existiram, ou se foram necessárias) para manter os negócios em andamento?
MN. Além do home office (que não tivemos escolha) estamos focando em relacionamento. Temos uma equipe de marketing própria, bastante ativa e com presença forte nas redes sociais. Sou um árduo defensor de um marketing forte na Ca2 e agora, mais do que nunca. Quem tentar vender alguma coisa agora vai se frustrar, pois os trabalhos vão rarear. O momento é de reforçar relacionamentos e estamos fazendo isso através do marketing de conteúdo.
Intensificamos a produção de vídeos no nosso canal do Youtube, estamos bastante ativos em conteúdo técnico no Linkedin e Instagram e iniciamos um plano de produção de e-books e lives que estava engavetado, pois estivemos com muito trabalho nos últimos 2 anos. Esse investimento não tem retorno imediato, ou seja, não trará mais renda durante a crise, mas certamente depois, no longo prazo.
Tivemos também que ajustar as finanças e cortar custos para mantermos o fluxo de caixa saudável. Sou absolutamente obcecado por manter nosso fluxo de caixa sempre positivo e com foco em metas de lucro. Sendo bem realista, já compreendi que teremos que abdicar de lucro esse ano. Mas não podemos abdicar de proteger capital. Então reduzir custos imediatamente foi necessário. Além de outras medidas, reduzi meu pro-labore em 50% pelos próximos 3 meses, pelo menos.
Quem tentar vender alguma coisa agora vai se frustrar, pois os trabalhos vão rarear. O momento é de reforçar relacionamentos.
GGB. Como você avalia a percepção dos clientes e do mercado em geral, frente aos desafios desse momento… Houve (se houve) apenas retração de investimentos? Houve (se houve) mudança de prioridades? Houve (se houve) mudança de posicionamento em relação aos negócios em andamento?
Estou acompanhando lives e artigos de personalidades do mercado e a percepção geral é de um restante de 2020 muito difícil. Talvez com uma leve melhora no segundo semestre. Já percebo redução nos investimentos por parte de nossos clientes. As novas propostas começaram a rarear e alguns projetos já foram interrompidos.
Alguns clientes também pediram extensão de prazos de pagamento. Como temos reservas em caixa, resultado de um excelente 2019, conseguimos suportar alguns atrasos.
Com algumas exceções, muitos de nossos clientes estão bastante cautelosos, aguardando os acontecimentos dos próximos meses para definir um rumo.
GGB. O que você acredita que esse momento irá impactar, negativamente, (e também positivamente), no desenvolvimento de novos negócios associados à sustentabilidade e normas?
MN. Talvez eu seja otimista nessa minha colocação, mas acredito que a humanidade irá constatar que não é invencível e que não tem controle ou tecnologia que a proteja de tudo.
Se esse pensamento for aplicado ao tema do aquecimento global e da depredação de recursos naturais, talvez possamos começar a agir de forma mais eficaz para reverter os impactos ambientais que a ação humana vem causando no planeta antes de se tornarem irreversíveis. Assim como um vírus está sendo capaz de derreter a economia mundial, as mudanças climáticas também serão, mas de forma ainda mais devastadora, duradoura e irreversível. Sou otimista nesse sentido, creio que aprenderemos muito com essa crise e que a sustentabilidade voltará ao palco principal das discussões e ações em nível global.
Sou otimista nesse sentido, creio que aprenderemos muito com essa crise e que a sustentabilidade voltará ao palco principal das discussões e ações em nível global
GGB. Acredita que a normalização do mercado se dará de maneira rápida ou tímida, e que cenário projeta para os próximos 24 meses?
MN. Acredito que será lenta. De qualquer forma, pelo o que tenho lido, tudo depende do quão eficiente seremos, como sociedade, em achatar a tão falada curva de contágio. Se levarmos a pandemia a sério como sociedade, fizermos nossa parte ficando em casa e nos cuidando, creio que o impacto na economia será menor no longo prazo. Mas se insistirmos em retomar a economia à força, antes da hora, e por razões que desafiam a ciência, a recuperação deve ser mais lenta.
Acredito que teremos um 2020 difícil até o final, mas a retomada deve vir a partir de 2021. E em 2022 temos eleições, mais uma chance para consertarmos o estrago que fizemos nas últimas.
*Marcelo Nudel, diretor geral da Ca2 é arquiteto formado pela Universidade Mackenzie e pós graduado em Sustainable Architectural Science pela Universidade de Sydney, Australia. Esteve envolvido em projetos multidisciplinares de edifícios que integram estratégias térmicas passivas, luz natural e desempenho energético em países como Austrália, Espanha, Estados Unidos e Brasil. Atuou por 8 anos como especialista em sustentabilidade da empresa global de engenharia Arup na Austrália e no Brasil, como o líder do grupo de edifícios sustentáveis antes de fundar a Ca2 em 2015. Lecionou em cursos de graduação e pós graduação nos cursos de arquitetura e urbanismo na Escola da Cidade e Universidade Mackenzie. Marcelo Nudel possui também acreditação como EDGE Expert, qualificando-o para atuar como consultor para certificação EDGE para greenbuildings.