Projetistas devem cobrar mais em certificado LEED ou Aqua? Na minha prática profissional de cerca de 13 anos na área de Green Buildings tive a oportunidade de trabalhar em projetos em 6 países (Austrália, Nova Zelândia, Singapura, Espanha, Estados Unidos e Brasil).
Entre projetos sustentáveis certificados e não certificados (sim, é possível ser sustentável sem ser certificado!), me deparei com essa diferenciação de preços apenas no Brasil.
Antes que o leitor culpe automaticamente nosso “jeitinho brasileiro” ou nossa “cultura da malandragem”, adianto: Não é disso que se trata!
De fato, alguns projetistas cobram honorários maiores quando se trata de um projeto certificado. Entendo que a razão disso é a desinformação que gera incerteza.
A falta de um Design Brief técnico, preciso e de qualidade por parte do Incorporador, que descreva as atribuições e responsabilidades de cada disciplina frente aos requisitos das certificações gera uma enorme incerteza nos projetistas.
Em qualquer área do conhecimento ou indústria, desinformação gera incerteza. Incerteza gera riscos. Quanto maior o risco, maior o preço.
Nosso mercado tem o péssimo hábito de “brifar” mal os projetistas. Incorporadores muitas vezes pulam essa etapa preciosa de seu trabalho chamada comumente em países de língua inglesa de OPR – Owner´s Project Requirements, ou seja: os requisitos de projeto do proprietário (ou do contratante).
O OPR é a base de um bom brief de projeto: Inicia-se com o que o proprietário (ou contratante) deseja atingir em termos de desempenho, gerando uma lista detalhada de requisitos técnicos a ser seguidos pelos projetistas.
Esse brief, com todas as exigência técnicas referentes à certificação deve então fazer parte do seu RFP (Request for Proposal), ou Carta convite enviada aos projetistas.
Se seu brief for detalhado o suficiente, com requisitos e normas técnicas a serem atendidas, com as responsabilidades e entregáveis bem definidas, a incerteza diminui.
O incorporador então sinaliza ao projetista que haverá um processo claro e controlado, com as “regras do jogo” previamente definidas.
A informação gera segurança. A segurança reduz o risco, que por sua vez mantém os honorários dentro de padrões convencionais de mercado, como deveria ser.
Mesmo assim, é possível ainda que o incorporador ouça do projetista: “ Meus honorários são mais altos pois terei que produzir cálculos específicos e organizar uma série de documentos adicionais que a certificação exige”.
Normalmente esse argumento é válido, mas não no Brasil, considerando a forma como nosso mercado se organizou em torno dos processos de certificação.
Empreendimentos certificados costumam contar com empresas que prestam serviços de consultoria em certificações (A Ca2 por exemplo é uma delas).
Parte do trabalho dessas empresas é justamente produzir esses cálculos específicos e organizar essa documentação especial, além de orientar projetistas, controlar processos e acompanhar auditorias.
Você, incorporador, já paga por esses serviços e, portanto nada justifica honorários mais altos por parte dos projetistas.
Na essência, projetistas partícipes em um projeto certificado não produzem nada especial ou diferente, apenas cumprem com requisitos de projeto específicos das certificações. É como cumprir com a NBR ou códigos de obras.
São apenas requisitos de projeto que definem o padrão de qualidade e desempenho do edifício.
Você imagina se seu projetista cobrasse honorários maiores por cumprir com as normas de incêndio, por exemplo? Absurdo! Enxergo a cobrança adicional para projetos certificados da mesma forma.
Se isso fez sentido à você, incorporador, saiba que podemos lhe auxiliar na elaboração de Design Briefs e Cartas convite com foco em certificação para a contratação de projetistas e construtoras em seu próximo projeto.
Um bom brief de projeto e algumas horas a mais gastas agora, não apenas auxiliam em uma definição precisa e ajuste futuro de seus objetivos mas economizarão tempo e dinheiro durante a vida do projeto.
Um abraço
Marcelo Nudel
Sobre o Autor: Marcelo Nudel, diretor geral da Ca2 é arquiteto formado pela Universidade Mackenzie e pós graduado em Sustainable Architectural Science pela Universidade de Sydney, Austrália. Esteve envolvido em projetos multidisciplinares de edifícios que integram estratégias térmicas passivas, luz natural e desempenho energético em países como Austrália, Espanha, Estados Unidos e Brasil. Lecionou nos cursos de graduação e pós em arquitetura e urbanismo na Escola da Cidade e Universidade Mackenzie. Marcelo Nudel possui acreditação como EDGE Expert, qualificando-o para atuar como consultor para certificação EDGE para greenbuildings.