Um projeto de acústica que seja eficiente, que atenda aos requisitos de desempenho e aos desejos do cliente, passa necessariamente por uma boa escolha de materiais. Por isso, são necessários laudos acústicos que atestem as características de cada material. Entenda mais sobre laudos de materiais a seguir.
Os laudos de isolamento acústico e de absorção sonora são fornecidos pelas empresas fabricantes para comprovar o desempenho de seus materiais acústicos. Eles são elaborados a partir de ensaios realizados em laboratório, que devem seguir metodologias especificadas em normas ISO, de padronização internacional.
Ensaios em laboratório para aferir o isolamento de elementos de edificações devem seguir o método descrito na norma ISO 10140:2010. A norma possui diferentes partes, sendo uma delas dedicada aos procedimentos específicos para ensaio de isolamento ao ruído aéreo, e outra, para ensaio de isolamento ao ruído de impacto. Também deve ser definido o valor do índice de redução sonora ponderado (Rw), com base na ISO 717-1:2020.
Já os ensaios realizados para calcular o espectro da absorção sonora de materiais podem ser feitos de duas formas: em tubos de impedância ou em câmaras reverberantes. O primeiro método deve seguir os procedimentos descritos na ISO 10534-2:1998, enquanto o segundo, os procedimentos descritos na ISO 354:2003. Para o ensaio de isolamento, deve ser especificado o valor de absorção sonora ponderado (αw), segundo descrito na ISO 11654:1997.
É importante realizar a avaliação dos laudos a fim de verificar a procedência dos dados emitidos, bem como analisar os resultados para cada coeficiente. Assim, será possível adaptar de maneira mais adequada os materiais à situação de projeto.
A confiabilidade de um laudo de desempenho acústico é medida primeiramente pelo laboratório que realizou o ensaio. Apenas laboratórios acreditados podem emitir laudos e eles devem sempre ser reproduzidos de forma integral e sem modificações. Caso haja indício de alguma adulteração no documento, o laboratório deve ser contatado para a confirmação dos resultados.
Algumas informações presentes no laudo são padrão e devem sempre ser observadas, como a indicação da metodologia utilizada, da instrumentação utilizada e seus dados de calibração, dados sobre as instalações laboratoriais e procedimentos de medição.
A especificação do elemento ensaiado também deve estar indicada por meio de detalhamento e imagens, bem como descrição e informação de suas dimensões. Vale lembrar que os resultados de um laudo se aplicam apenas ao elemento indicado e não podem ser usados para comprovar o desempenho acústico de outros elementos, mesmo que similares.
Além disso, também devem constar dados do cliente e dos coordenadores e laboratoristas responsáveis pela condução dos ensaios. Na Figura 1, é possível observar exemplos genéricos de laudos acústicos emitidos por laboratórios acreditados.
Figura 1 – Exemplos de laudo de absorção sonora e de isolamento sonoro. Fonte: Manual ProAcústica de Acústica Básica.
Avaliação dos resultados
Os resultados dos ensaios em laboratório geralmente são mostrados no laudo por frequências, em banda de oitava ou terço de oitava. Isso se deve ao fato de as características analisadas não serem iguais para baixas, médias e altas frequências.
A avaliação por frequência é importante para equalizar o isolamento e o condicionamento de um ambiente em relação ao comportamento acústico de cada sala, de seu uso e das fontes sonoras existentes. Em outras palavras, serão aplicados materiais mais ou menos absorventes, conforme a necessidade de cada parte de uma sala.
A Figura 2 ilustra essa situação em que materiais diferentes são aplicados em diferentes regiões de uma sala:
Figura 2 – Distribuição de materiais em uma sala. Fonte: Bê-á-bá da acústica arquitetônica, Léa Cristina Lucas de Souza.
Assim, a avaliação direciona o projetista de acústica a recomendar diferentes soluções que atendam às necessidades de desempenho em todo o espectro de frequências de interesse de cada projeto.
A partir da análise de laudos de isolamento, será possível identificar medidas que irão melhorar o isolamento de elementos seja por meio de aplicação de vedação, troca de materiais ou adição de amortecedores.
Já no caso dos laudos de absorção sonora, pode-se escolher diversos materiais e aplicá-los em quantidades diferentes. Isso se deve ao fato de que cada um apresenta maior absorção para uma determinada faixa de frequência, como demonstra a Figura 3.
Pode-se observar que o material representado é muito efetivo para a frequência de 1000 Hz e 8000 Hz, mas que para frequências mais baixas como 125 Hz, ele é menos absorvente. Vale ressaltar também que os valores de coeficiente de absorção são representados de 0 a 1, mas que por limitações dos testes, podem ser encontrados valores maiores. Nesse caso, deve-se assumir o valor da unidade como referência para o material.
Figura 3 – Exemplo de coeficiente de absorção de um material. Fonte: Bê-á-bá da acústica arquitetônica, Léa Cristina Lucas de Souza.
Assim, será possível equilibrar o tempo de reverberação de maneira adequada pelo espectro de frequência, levando em conta também o uso de cada sala.
Por fim, a Figura 4 apresenta um exemplo, em que quatro materiais diferentes foram aplicados em uma sala. Cada um deles apresenta uma faixa de ação específica dentro do espectro sonoro, contribuindo, assim, para a absorção do ambiente de maneira mais uniforme.
Figura 4 – Coeficientes de absorção sonora para diferentes tipos de materiais. A escolha dos materiais deve ser feita de maneira a produzir um equilíbrio no espectro sonoro. Fonte: Acústica de Salas, Eric Brandão.
O mais interessante é que os materiais utilizados criem um equilíbrio e estabeleçam um cenário de conforto e bom condicionamento acústico. A presença de uma absorção sonora inadequada pode comprometer a inteligibilidade da fala, a apreciação da música, podendo causar dificuldade de concentração.
Por isso, os laudos acústicos são cruciais para tomada de boas escolhas em projetos.
Imagem Destaque: Resonics