Nos filmes de ficção científica feitos nos anos 80 e 90, as cidades comumente eram representadas com muitos prédios, escuras e sujas, muitas vezes retratando uma derrota humana pelo dualismo tecnologia versus natureza. É possível que esse futuro ainda venha a acontecer (nunca se sabe) mas, por enquanto, a preocupação com o desenvolvimento sustentável tem batido à nossa porta com urgência e estimulado a criação de medidas alternativas pela preservação do meio ambiente, como a construção de edifícios sustentáveis.
No Brasil, a procura por esse tipo de construção tem crescido. O arquiteto Marcelo Nudel tem percebido o aumento desta demanda. “Nos últimos cinco anos, realmente houve um salto expressivo no Brasil na busca por edificações mais sustentáveis e que procuram certificações”, falou. Ele apontou ainda que isso é perceptível em dois nichos específicos de mercado: edifícios corporativos especulativos de médio e alto padrão e nos edifícios built to suit, uma espécie de construção sob medida.
Um dos indicadores do crescimento nesse tipo de investimento foi divulgado em agosto deste ano, em São Paulo. Em uma análise entre 80 países, o Brasil está em terceiro lugar no ranking de construção de prédios com a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design – Liderança em Energia e Design em Desenvolvimento, em tradução livre). A lista foi elaborada pela organização não governamental Green Building Council (GBC). Essa certificação é um selo que atesta que determinado edifício atende a uma série de exigências de sustentabilidade. Mas, para o arquiteto Marcelo Nudel, especialista na certificação LEED, ainda estamos longe do ideal.
“Mesmo ocupando a 3ª posição no ranking do GBC Brasil, a proporção entre esses novos edifícios e o total da indústria da construção civil brasileira é ínfima, o que demonstra que ainda há um enorme caminho a se percorrer. A posição no ranking ainda não reflete os enormes níveis de informalidade (principalmente no setor residencial) e seus impactos ambientais e sociais associados a isso”, disse.
A também arquiteta Luciana Carvalho disse que o Nordeste tem investido bastante em construções desse tipo. “Podemos citar a Arena Pernambuco, que recebeu os jogos da Copa do Mundo de 2014 e obteve certificação LEED”, falou. “Temos na região cerca de 50 empreendimentos registrados para a obtenção desse selo. Isso é um fato muito importante porque a região é uma das que mais tem potencial para crescer, em termos de construção civil e até mesmo de consumo energético, tendo em vista que o clima mais quente provoca um aumento no uso de climatização artificial, já que estamos também observando aumentos nas temperaturas médias mundiais”, complementou a arquiteta.
O número de edificações poderia ser maior, mas entraves burocráticos dificultam o processo. “Com exceção de alguns itens constantes na nova Norma de Desempenho e leis municipais específicas, não há no Brasil um código de edificações adequadamente rigoroso para questões de sustentabilidade como ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Austrália”, argumentou Marcelo.
Medidas verdes
Algumas medidas podem ser adotadas para a construção mais sustentável, como explica Luciana. “É importante pensar na relação do edifício com a cidade, permitir que seus usuários se desloquem utilizando meios de transporte alternativo, usar materiais que não agridem o entorno tanto esteticamente quanto termicamente, além de proporcionar espaços de uso comum que incentivem o convívio e permitam a contemplação”, disse.
Outra alternativa, é a construção de prédios de “energia zero”, que atendem as demandas energéticas sem depender do fornecimento externo de energia elétrica. “Os edifícios energia zero ainda são poucos no país, temos apenas a Casa Eficiente da EletroSul, XXX, que é um projeto de demonstração, portanto seu uso contínuo é inexistente. Contudo, iniciativas como essa são fundamentais para a propagação da essência da arquitetura sustentável e de que ela é viável”, acrescentou Luciana.
Marcelo também aponta para a escassez de construções de energia zero no Brasil, embora perceba que seja um assunto que tem sido investigado. “Vejo no Brasil hoje um movimento acadêmico para a pesquisa de edifícios de energia zero, porém ainda longe da aplicação eficaz no mercado”, falou.
Fonte: http://revistanordeste.com.br/noticia/brasil-e-3o-em-ranking-de-construcoes-sustentaveis/