A criação de microclimas urbanos agradáveis e confortáveis ao usuário está relacionada às principais variáveis climáticas a seguir:
Os estudos de microclima envolvem a manipulação de elementos arquitetônicos e paisagísticos capazes de controlar principalmente a velocidade dos ventos e a radiação solar de maneira benéfica ao projeto. Em segunda instância, procura-se controlar pontualmente a temperatura resultante do ar e a umidade relativa.
Leia esse artigo: O que é microclima ?
As duas primeiras variáveis (ventos e sol) dependem de decisões macro de projeto, sendo que as duas últimas são geralmente decorrentes de decisões pontuais de projeto;
Foto: Fernando Madeira / Gazeta
O vento é um fator essencial para o conforto percebido dos pedestres. O efeito do vento sobre as pessoas pode ser dividido em duas categorias.
O primeiro é chamado de “efeito mecânico” e é o efeito direto da força do vento sobre as pessoas e objetos, como guarda-chuvas, papéis soltos e chapéus.
Normalmente, é acoplado a velocidades de referência específicas para cada atividade externa planejada, sendo 10 m /s uma indicação de desconforto do vento por efeito mecânico para a maioria das atividades ao ar livre.
O segundo tipo é o “efeito térmico”, que, quando combinado com a temperatura do ar, a chuva ou a umidade influenciam o estado de conforto térmico de uma pessoa.
Nos meses de verão, por exemplo uma pessoa “sente” mais frio devido ao movimento do ar. Nos meses de inverno, mesmo em climas tropicais amenos, no entanto, um vento de maior velocidade pode aumentar significativamente o desconforto, especialmente quando combinado com a chuva.
Nesta análise, a velocidade do vento e a probabilidade direcional são analisadas para determinar onde o desconforto ou efeitos não intencionais podem potencialmente ocorrer.
Ambientes construídos influenciarão os comportamentos dos ventos ao ar livre. Quando o vento atinge os edifícios, ele é modificado por eles.
Edifícios altos, em especial, tendem a interceptar ventos fortes, redirecionando-os para o nível de pedestres, criando uma zona de fluxo acelerado em frente e ao redor dos cantos do edifício.
Isso significa que o fluxo em torno de edifícios altos, geralmente é mais tempestuoso do que os ventos que chegam. Este fenômeno foi consistentemente visto na análise do projeto, assim como na maioria dos empreendimentos de natureza similar.
A volumetria e orientação dos edifícios em relação aos ventos predominantes irá influenciar a velocidade dos ventos no nível do pedestre.
Procura-se trabalhar com a orientação ideal dos edifícios de forma a reduzir o risco de formação do ‘efeito Venturi’ (ou efeito ‘túnel’), o afunilamento do vento entre edifícios muito próximos o que pode ocasionar velocidades muito altas de vento na região dos pedestres. Vãos estreitos entre edifícios altos também são uma causa típica da aceleração do vento. Isso é chamado de “Efeito Venturi” .
O vento é importante para o microclima de áreas abertas, pois proporciona sensação de resfriamento, mas não deve ser extremamente forte de forma a causar desconforto;
Foto: Tribuna Online
Novamente, a orientação, implantação e altura dos edifícios irá influenciar o que acontece no plano do pedestre. Determinadas áreas necessitam de radiação solar direta dependendo de seu uso.
Radiação solar direta é geralmente desejável em piscinas, jardins, e determinadas áreas de descanso.
Estratégias possíveis são:
Áreas de circulação, refeições e para estadias mais prolongadas geralmente necessitam de algum nível de sombreamento.
É possível proporcionar sombreamento com pequenas intervenções pontuais de arquitetura e paisagismo. No entanto, deve-se procurar garantir que a geometria e orientação dos edifícios não bloqueiem o sol em determinadas áreas, situação que seria impossível de ser remediada.
A temperatura do ar pode ser controlada no nível do pedestre. Elementos pontuais de paisagismo, como vegetação podem reduzir temperaturas localizadas em até 2oC, reduzindo portanto a sensação térmica do pedestre.
Materiais de piso como madeira, grama, assim como as cores desses pisos irão também influenciar a sensação térmica dos usuários. Esse efeito está relacionado com as chamadas ilhas de calor, geralmente encontradas em centros urbanos ou em grandes áreas pavimentadas;
Foto: Wesley Costa / O hoje
Determinados climas se beneficiam da manipulação da umidade relativa do ar através de soluções localizadas de paisagismo, como a inserção de água na forma de chafarizes e espelhos d’água.
O ar cede calor sensível para a água, que evapora, reduzindo assim a temperatura do mesmo. Quanto mais baixa a umidade relativa do ar, maior é o potencial de resfriamento.
A água no entanto é um elemento que pode proporcionar resfriamento através do contato com a pele e possui enorme apelo visual no que tange a sensação de conforto térmico e portanto deve ser explorada.
O processo de avaliação de horas de acesso solar segue as seguintes etapas:
As quatro estações do ano devem ser analisadas, baseadas no período esperado de ocupação da edificação.
Entende-se que áreas de lazer e piscinas com bom acesso solar sejam aquelas que recebem mais de 80% de horas de sol, o que significa aproximadamente 3.5 horas de sol pela manhã e ao meio-dia e aproximadamente 4 horas de sol pela tarde.
As áreas públicas devem ser projetadas de acordo com as características microclimáticas que se deseja atingir e de acordo com as atividades que serão propostas em cada área do terreno.
Imagem destaque: Marcos Santos / USP
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