Além de ser capaz de proporcionar bem-estar e segurança nos espaços, a iluminação também pode impactar de forma positiva na saúde. Há algum tempo, a luminotécnica tem dado um enfoque maior na questão do ritmo biológico dos usuários. No mercado internacional, há produtos sendo lançados com tecnologias que auxiliam na adaptação da luz e projetos sendo desenvolvidos com uma atenção maior no aspecto da saúde. Alguns exemplo são os hospitais e casas de repouso, escolas e escritórios.
Já mencionamos o ritmo circadiano no artigo sobre temperatura de cor. Basicamente, o ritmo circadiano é o período de 24h sobre o qual se baseia o nosso organismo. Isso significa que o nosso corpo se comporta de maneiras diferentes que variam ao longo do dia – em ciclos. Quando vai chegando o horário do pôr-do-sol – fatores como a emissão de uma “luz mais quente”, estimula a produção de melatonina, hormônio responsável, entre outras coisas, pela regulação do sono, mostrando que o período de descanso se aproxima.
Já a luz branca ou azulada suprime a produção desse hormônio, sendo mais estimulante. Esta temperatura é de cor típica ao sol do meio-dia, um horário de alta atividade, e assim nosso organismo tende a ficar mais “atento/elétrico”, com a energia necessária para produzir e desenvolver as atividades do dia-a-dia.
Com a vida moderna e a baixa exposição à luz natural, o organismo sofre com a ausência dessas variações de luz. O fato de estarmos em edifícios durante 80% do tempo ou mais, prejudica o nosso ritmo circadiano.
A luz pode afetar os seres humanos em 3 diferentes aspectos: efeitos visuais, psicológicos e biológicos. Os efeitos visuais estão ligados a nossa percepção do espaço e a forma como a informação visual após ser enviada através dos fotorreceptores presentes na retina é processada pelo cérebro. Os efeitos emocionais causados pela iluminação sofrem mudanças conforme fatores psicológicos e culturais, preferências e estado físico e emocional individuais. O fator biológico diz respeito a estimulação que ocorre através dos nossos olhos e da nossa pele.
A melatonina é um hormônio produzido pelo cérebro (glândula pineal), ele atua regulação do padrão vigília/sono e funções sazonais. A glândula pineal é ativada pela presença ou ausência de luz. Esse hormônio também é responsável por desacelerar o organismo, minimizando as atividades do corpo para facilitar o sono durante a noite. A partir dos primeiros raios de luz as células fotorreceptoras são estimuladas e assim se reduz a produção de melatonina e começa a produção de cortisol. É por esse motivo que a quantidade de luz natural que recebemos durante o dia é importante para o ritmo circadiano.
Durante à noite, recomenda-se evitar aparelhos que emitam luz azul, assim como computadores, tablets e celulares. A luz azul estimula o ritmo circadiano , por esse motivo à noite é melhor dar preferência a uma luz de temperatura mais quente.
Confira abaixo alguns estudos que evidenciam a relação e importância da iluminação na saúde (Fonte: LUME edição 74 – Iluminação e Saúde) :
“Pesquisas recentes na Universidade de Psicologia e Psiquiatria Monash, na Austrália, apontaram que determinadas faixas do espectro luminoso, ondas curtas de 470, 497 e 525nm, podem ser de 65% a 81% mais eficazes em iluminação com enfoque no ritmo circadiano.”
“Outro estudo com pacientes que sofrem com depressão, não apenas mostrou como uma iluminação com alta intensidade de luz e concentração de cor azul reduziu os sintomas de depressão nos pacientes como também aumentou os níveis de melatonina durante a noite, auxiliando no sono. Os resultados positivos nos pacientes que fizeram o tratamento de terapia de luz nesta pesquisa são comparáveis aos resultados obtidos por outros grupos de pacientes sob tratamento tradicional com antidepressivos.”
“Diversos estudos apontam que iluminação artificial com alta intensidade luminosa, em conjunto com a iluminação natural do ambiente, pode melhorar e contribuir significativamente para tratamentos contra depressão, distúrbios bipolares, agitação, distúrbios do sono, dores e depressão sazonal de inverno. Normalmente, tratamentos com luz artificial utilizam intensidade luminosa entre 2.500Lux e 10.000 Lux.”
“Um estudo em hospitais, conduzido pela equipe do “Centre for Health Design” na Califórnia, Estados Unidos, com pacientes com distúrbio bipolar e depressão, demonstrou que os pacientes dos quartos voltados para o leste (maior incidência de luz natural) permaneceram 3.67 dias a menos internados em relação aos pacientes dos quartos voltados para oeste (menor incidência de luz natural)”.
“Outro estudo liderado pela Cornell University, nos Estados Unidos, mostrou que enfermeiras que trabalham em ambientes com janelas sentem-se mais despertas e que a luz natural ajudou a baixara pressão arterial, bem como a aumentar a temperatura corporal da equipe. Foram três anos de estudos, que também relacionaram as janelas no ambiente de trabalho ao bom-humor (as enfermeiras trabalhando em unidades com janelas riram cinco vezes mais em relação às que trabalham em unidades sem janelas), além de cometer menos erros de medicação (22% a menos em comparação ao outro grupo).”
A Osram, juntamente com o Centro de Transferência para a Neurociência e Aprendizado na cidade de Ulm, Alemanha, realizaram um projeto piloto em novembro e dezembro de 2011 a fim de descobrir se um conceito de iluminação circadiana em sala de aula poderia estabilizar o relógio biológico dos estudantes, auxiliando assim o seu estado de alerta matinal para um melhor aprendizado. Para o estudo foi instalada uma iluminação de teto com LEDs com temperatura de luz de 4000K.
Para uma simulação completa da luz natural, foram instalados também módulos de LEDs com iluminação indireta. Com isso foi possível simular uma temperatura de cor bem semelhante à luz natural, alcançando até 14000K. O controle de luz também permitiu que a intensidade luminosa e as diferentes temperaturas decores fossem recriadas de maneira dinâmica, assim como acontece durante o dia. Os resultados do estudo mostraram um efeito positivo da luz circadiana sobre os alunos, com maiores níveis de concentração e maior produtividade em sala de aula, assim como mais acertos nos testes cognitivos e melhoras de aprendizado e memória.
(Fonte: LUME edição 74 – Iluminação e Saúde)