Construir um edifício de quase 8.000 m² em uma ladeira irregular em apenas 11 meses: este foi o desafio do escritório internacional Perkins&Will quando recebeu a tarefa de criar a nova unidade do Colégio Pueri Domus, em Perdizes, na capital paulista. A região de São Paulo é conhecida por suas diversas subidas e descidas, e os profissionais precisaram ser criativos para driblar os desafios do terreno e entregar a obra em menos de um ano.
“Foi necessário retirar cerca de 35.000 m³ de terra do local, além de todo o projeto de contenção das edificações vizinhas, para implantar a escola sem afetar o patrimônio e a vida nos arredores”, explica Douglas Tolaine, diretor de design da Perkins&Will em São Paulo.
Somado a isto, veio a tarefa de criar uma escola que respondesse às demandas contemporâneas de ensino, com alunos cada vez mais conectados ao mundo online e constantemente submetidos a uma avalanche de informações.
A resposta veio em criar um edifício que estimulasse a interação cara a cara, e também exercitasse o foco dos mais jovens. O projeto é dividido em duas alas principais, que se encontram em um átrio central com uma arquibancada onde os alunos podem conversar e brincar em seu tempo livre. Envolvido por uma grande cúpula translúcida, o espaço permite a contemplação da rua e a entrada de luz natural enquanto garante uma certa privacidade. As salas de aula também ganharam divisórias de vidro transparente, que permitem a entrada de luz natural e também buscam estimular os estudantes a se acostumarem com o movimento nos corredores, exercitando o foco em um cotidiano cada vez mais repleto de estímulos.
Na paleta de cores, madeira e tons quentes ajudam a tornar o ambiente aconchegante. “Nos inspiramos exatamente na terra, no terreno e na mata que um dia existiu no local, nas árvores e na madeira que compõem esse elementos naturais e que trazem conforto e bem-estar. O visual para a escola veio inspirado nas cores da terra e em toda uma paleta de acabamentos quentes que provocassem contraste com a nossa estrutura metálica branca”, afirma Douglas.
“O objetivo principal foi criar uma sensação de conforto e aconchego na escola, com um espírito de casa, como um casulo, dando proteção aos alunos e aos pais. Nossa inspiração e conceitos de projeto levaram em conta os princípios da arquitetura biofílica, onde a luz natural abundante, a amplitude, o céu e todo o contexto estivessem presentes na nova edificação”, continua o profissional.
A partir deste conceito, o projeto também pôde adotar soluções que minimizaram o impacto ambiental da construção. A maior presença de luz natural, por exemplo, reduz o consumo de energia, e a estrutura metálica utilizada na construção agilizou o tempo de obras necessário e reduziu a produção de dejetos e detritos. “Como o prazo para a entrega do projeto era enxuto, precisamos adotar um método construtivo que nos ajudasse a ganhar agilidade. E, além de maior rapidez, a escolha da estrutura metálica também agregou positivamente na sustentabilidade, primeiro porque o aço é um material reciclável. Depois, porque a solução reduz significativamente os impactos ambientais na fase da obra (não temos necessidades de formas de concreto para lajes, por exemplo). A estrutura metálica também permite projetos com vãos mais amplos, o que possibilita maior iluminação natural e, consequentemente, menos uso de energia elétrica”, explica o arquiteto.
Para garantir que todos estes elementos criassem, juntos, um espaço agradável para os alunos, a Perkins&Will também contou com uma consultoria em conforto ambiental integrado desenvolvida pela Ca2 Consultores. Por meio de uma série de análises e simulações computacionais, a empresa propôs soluções que melhoraram o desempenho térmico, lumínico e acústico do Colégio, otimizando os espaços de ensino.
A conexão com a natureza, é claro, também não poderia ficar de fora. O paisagismo, assinado pela Cardim Arquitetura Paisagística, ganha sua expressão máxima em um bosque que propõe a restauração da Mata Atlântica — bioma típico e originário da região paulista, mas que, atualmente, encontra-se severamente devastado — incluindo espécies nativas como Cambuci, Araçá e Grumixama. A ideia, explica Douglas, era criar um espaço verde que pudesse ser desfrutado não apenas por alunos e professores, como pela comunidade local da região de Perdizes.
“Construir um projeto na área de educação é sempre uma grande oportunidade de colocar em prática valores e princípios humanísticos que me encantam na arquitetura. Muito mais que um prédio bonito, (…) construímos uma edificação que visa se relacionar com a cidade e todo um bairro. Nos desafiamos a construir um edifício de quase 8.000 m² em 11 meses. Foi um trabalho feito a 12, 14 ou 20 mãos, onde cliente, investidor, construtora, arquitetura e projetistas complementares foram protagonistas e agentes transformadores, e onde nós, arquitetos, tivemos a atribuição de reger esta orquestra”, conclui o profissional.
( Casa Vogue)